Haddad Anuncia Criação de Delegacia Especializada Contra Crime Organizado Financeiro

Vista de um edifício governamental ou de uma delegacia de polícia, simbolizando a ação das autoridades contra o crime financeiro.

Haddad Anuncia Nova Delegacia Contra o Crime Organizado Financeiro

O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou a iminente criação de uma delegacia especializada no combate a crimes que lesam o sistema financeiro nacional. A revelação ocorreu no mesmo dia em que foi deflagrada a Operação Spare, uma ação que representa um novo desdobramento da Operação Carbono Oculto e que mira uma complexa organização criminosa envolvida em lavagem de dinheiro através de postos de combustíveis, empresas de tecnologia financeira (fintechs) e exploração de jogos de azar.

Foco na Interseção entre Crime e Economia

Fernando Haddad enfatizou a importância estratégica da nova unidade. “Essa delegacia vai combater de forma estruturada o crime organizado, bem como a intersecção entre o crime organizado e a economia real”, explicou o ministro. Ele ressaltou que a iniciativa visa fortalecer as ferramentas do Estado no enfrentamento de grupos criminosos que buscam infiltrar-se e lucrar ilicitamente no ambiente econômico formal.

O ministro também destacou que a Operação Spare, realizada nesta quinta-feira (25), é a quarta ação de grande porte nesse escopo, evidenciando a crescente colaboração entre diversas instituições. Entre os órgãos parceiros, Haddad mencionou os Ministérios Públicos Federal e estaduais, além das Polícias Militares, sublinhando a natureza multifacetada e integrada dessas investigações.

Nos próximos dias, a proposta para a criação da nova delegacia será encaminhada ao Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI). A estrutura da nova unidade será integrada ao organograma da Receita Federal, reforçando a capacidade de investigação e repressão a fraudes e ilícitos financeiros no âmbito da fiscalização tributária.

Operação Spare: Desvendando um Esquema Bilionário

A Operação Spare foi desencadeada a partir de intensas suspeitas sobre a movimentação financeira atípica de empresas supostamente envolvidas em fraudes. Haddad detalhou a dimensão do esquema: “[As empresas] Movimentavam R$ 4,5 bilhões e pagavam tributos sobre apenas 0,1% desse montante. E isso despertou a atenção da Receita”, afirmou o ministro, revelando a discrepância gritante que acendeu o alerta das autoridades fiscais.

A ação resultou no cumprimento de 25 mandados de busca e apreensão. O comandante do Policiamento de Choque, coronel Valmor Racorti, divulgou um balanço inicial das apreensões, que incluem quase R$ 1 milhão em espécie, 20 aparelhos celulares, diversos computadores e uma arma de fogo, itens cruciais para a continuidade das investigações e para a desarticulação da rede criminosa.

A Infiltração do Crime Organizado na Economia Formal

O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, ofereceu uma perspectiva sobre a evolução das facções criminosas. “As facções criminosas passaram muito tempo priorizando o tráfico de entorpecentes, mas novas estruturas têm possibilitado que elas atuem em outras frentes, inclusive na economia formal e no ambiente político”, observou o procurador-geral, alertando para a sofisticação e diversificação das atividades ilícitas.

Silvio Loubeh, promotor de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), detalhou o ponto de partida das investigações. Segundo ele, as apurações tiveram início a partir de suspeitas relacionadas a casas de jogos na Baixada Santista e ao uso de máquinas de crédito e débito. “Investigando as empresas que recebiam esses recursos, identificamos dois postos de combustíveis envolvidos com lavagem de dinheiro”, explicou Loubeh.

A partir dessa descoberta, os investigadores desvendaram um vasto grupo criminoso responsável pelo branqueamento de capitais. O promotor acrescentou que “não só por meio dos dois postos, os envolvidos controlavam também outros estabelecimentos no setor de combustíveis, uma rede de motéis e empresas de fachada que movimentaram milhões de reais”, revelando a amplitude da operação financeira ilícita.

As investigações também apontam para a existência de vínculos da organização criminosa com empresas do setor hoteleiro e, de forma preocupante, para a participação do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores facções criminosas do país, indicando a profundidade da infiltração no tecido econômico.

Medidas Adicionais e Força-Tarefa

O secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, reforçou a necessidade de ações complementares. Ele defendeu a adoção de medidas voltadas a um maior controle na importação de petróleo e seus derivados, setores frequentemente explorados para a prática de ilícitos. “É uma série de avanços que precisaremos fazer para combater essa infiltração tão ampla”, disse Barreirinhas, sublinhando a complexidade do desafio.

A Operação Spare mobilizou uma significativa força-tarefa, contando com a participação de 110 policiais militares do Comando de Choque de São Paulo e suas unidades especializadas, responsáveis pelo cumprimento das ordens judiciais. Além deles, agentes da Receita Federal, integrantes da Procuradoria-Geral do Estado e da Secretaria da Fazenda atuaram em conjunto, demonstrando a coordenação necessária para enfrentar crimes de tamanha envergadura.

O Desafio da Infiltração Criminosa na Economia

A infiltração de organizações criminosas na economia formal representa um desafio crescente para as autoridades brasileiras. Grupos como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e outras facções têm diversificado suas fontes de receita, migrando do tráfico de drogas para atividades como lavagem de dinheiro em setores legítimos, exploração de jogos de azar, fraudes fiscais e até mesmo a gestão de empresas de fachada. Essa estratégia permite não apenas a “lavagem” de recursos ilícitos, mas também a expansão do poder e influência dessas organizações, dificultando a rastreabilidade e o combate. A criação de delegacias especializadas e a cooperação interinstitucional são consideradas cruciais para desmantelar esses esquemas complexos e proteger a integridade do sistema financeiro e econômico do país.

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